quarta-feira, 11 de maio de 2016

Justiça

·                     Ele mesmo julga o mundo com justiça; governa os povos com retidão. (Sal. 9:8)


Os cristãos têm sido tão falsos, tão falsos que as vezes me pergunto se realmente querem viver com Cristo quando Ele voltar. Vejam só algumas razões:
“Conheço um casal amigo com uma média de idade de aproximadamente 25 anos. O esposo é oficial da igreja e aparentemente ambos são devotos a Deus. Mas o esposo infelizmente trai a sua esposa. Ele tem uma namoradinha e mantem esta relação desde o tempo em que ainda namorava a sua atual esposa. O casal continua assim nestes 2 anos de casados. Mesmo tendo descoberto a traição no tempo do namoro a minha amiga (a esposa) não se separou daquele que agora é seu esposo e hoje reclama do seu comportamento. Não sei porquê.
Para minha surpresa e com muita tristeza esta amiga começou a ter um comportamento estranho comigo que era difícil de entender. Foi quando mais tarde ela começou a me assediar mais descaradamente, que me apercebi do seu comportamento estranho. Ela queria pagar pela mesma moeda o comportamento do seu marido ou talvez não.”
Como pode um casal cristão agir assim? Como pode uma mulher cristã se comportar desta maneira, mesmo sabendo que eu também sou casado? Será que é este cristianismo que Deus espera de nós?
“Outro dia minha esposa estava a ver algumas publicações na sua conta do facebook quando viu que uma amiga sua lamentava o mal que outra pessoa havia feito com esta. Até aí tudo parecia normal, visto que estamos num mundo de pecado. Mas ficou anormal porque a pessoa em causa era uma irmã em cristo. Eram irmãs que adoravam no mesmo templo. A amiga de minha esposa é acusada por esta irmã em cristo de ser arrogante e de trair o seu namorado e ela ao sentir-se caluniada partilhou sua tristeza no facebook.”
Como é possível haver cristãos que mesmo partilhando da mesma fé ainda passam por esta falsidade? Onde está o amor?
“Uns meses atrás, um colega e irmão em Cristo pediu-me um dinheiro emprestado e disse-me que pagaria um mês depois. Já lá vão seis meses e nada do dinheiro. Por incrível que pareça e para o meu azar, nesses últimos três meses não só não me devolve, como já o vi duas vezes em restaurantes diferentes com a sua esposa. Nega sempre que tem dinheiro, mesmo com o salário que recebe mensalmente e acaba por adiar a devolução do meu dinheiro. Soube a bem pouco tempo que não sou o único burlado. Existem outros que já sofreram na pele o mesmo que estou passando.”
Como é que um cristão consegue viver com dividas sem nenhum problema? Como é que um cristão vive achando que Deus não se importa com isso?
Este mundo é mau. Nele acontece com cada coisa que nos perguntamos, quando é que Deus fará justiça de nossas causas. Muitos de nós passamos por muitas injustiças que nossa alma estremece diante de todas as arbitrariedades que passamos. Mas também nos gloriamos, porque sabemos que o mal não triunfará e Deus fará justiça as nossas causas.
A propósito que causas são estas? Que justiça esperas que Deus Justo venha fazer?
Provavelmente você estava a espera que este trabalho desse um corretivo àquelas pessoas que se comportam como as das histórias acima. Talvez você pensou que este trabalho falasse para essas “más” pessoas, talvez você pensa que é objetivo de Deus que estas pessoas passem pelos males que causam. Talvez você pensa que Deus esta com uma vara para os castigar. Mas enganas-te. Eu vou falar de você e eu que julgamos o nosso próximo. Vamos falar de você e eu que expomos detalhadamente o próximo na roda de amigos. De você e eu que de forma direta ou indireta nos meios de comunicação e redes sociais expomos outrem. Sim, é pra nós que Deus quer dar um corretivo. É pra nós que nos sentimos legitimados em expor, em maldizer, em suma, julgar o próximo porque falhou connosco ou com o nosso amigo(a). Sim é para nós que Deus quer falar neste trabalho.
OBS: Nenhuma das razões acima citada foi vivida por mim ou alguém próximo a mim, ou seja, criei-as da minha imaginação. Acontecem? Sim. Mas, também não seria eu que as devia tornar publica.
E quero começar com uma história bíblica muito conhecida:
A bíblia conta a história de uma família rica. O pai tinha muitos empregados e sobre eles estavam encarregados os seus dois filhos. Um deles cansado de trabalhar com o seu pai decidiu pedir sua herança e partir. Sim, estamos a falar da história do “Filho pródigo”. História muito bem conhecida na religião cristã. Passemos, então, para a parte final.

A bíblia relata que este filho gastou tudo o que tinha e regressou. Após o reencontro com o pai um banquete lhe foi preparado, uma túnica vestida, um anel lhe foi colocado no dedo. Voltou e por amor do pai ocupou o lugar que uma vez  havia negligenciado.

O relato bíblico diz ainda que quando o filho mais velho regressou de seu trabalho abordou um dos trabalhadores sobre o que se passava, e este por sua vez o informou que seu irmão mais novo voltara e lhe foi preparado um banquete. O filho mais velho indignou-se com o pai por preparar um banquete para o “Esbanjador de Riquezas”. Provavelmente tenha mandado chamar seu pai a parte, para lhe mostrar sua indignação. Com certeza o filho mais velho tinha as “suas razões” ao demonstrar sua insatisfação. Deve ter dito: Como é que alguém que esbanja a tua riqueza tem estas honras todas e eu que ti sirvo todos os dias não? Isto é falta de consideração. Será que ele é mais importante do que eu? Será que o meu trabalho não vale nada?
A verdade é que quando somos lesados, e as vezes até é só preciso lesar o nosso(a) amigo(a), mesmo na mais pequena gravidade, sentimos que nossas razões superam qualquer situação e nos sentimos legitimados em julgar quem quer que seja. Quer queiramos quer não, todos nós temos as nossas razões quando exercemos um juízo. Sejam elas (razões) boas ou más, estejamos nós legitimados ou não para julgar, uma é certa, essas razões são somente nossas e não mais do que nossas.
E isto nos leva a uma inquietação que tem perturbado a mente do cristão ao longo dos tempos: Deve o cristão fazer juízo? Uns dizem que não se deve fazer juízo (Mat. 7:1,2). Outros dizem que sim (João 7:24)
Definição de julgar: É o desejo de estabelecer uma relação mental entre dois ou mais conceitos onde o julgamento em si não passa de uma simples proposição que afirma ou nega a conexão existente entre estes mesmos conceitos
Outra definição: Emitir juízo, se bom ou mau. Repreender o mau ato e louvar o certo. Comparar todos os fatos envolvidos para perceber a diferença do que deve ser descontinuado.
Volto a perguntar: O cristão deve fazer juízo?
Visto que a bíblia apresenta as duas facetas sobre o juízo (Julgar e não Julgar) é importante abrirmos a mente para melhor percebermos. coloquemos então em primeiro lugar a hipótese que "Sim": "Deve julgar"
·         Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida! Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja. Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? (1Cor. 6:2-5)
Paulo aqui nos faz uma abordagem geral de que devemos julgar, e que todos os negócios inerentes a igreja devem ser tratados exclusivamente pelos de Cristo.
·         Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. (Mt 12: 34)
Quer queiramos quer não, o juízo faz parte do nosso dia-a-dia. Pelos piores ou melhores motivos, no pior ou melhor julgamento nos interligamos assim com a raça humana. O próprio Cristo quando esteve na terra dissera que o juízo a Deus pertence, e mesmo assim não se retraiu de fazer juízo como vimos acima. O próprio ato de repreensão já é um juízo que fizemos, pois ao fazermos, comparamos o certo do errado, o continuado do descontinuado, o bom do mau.
Agora vejamos a outra faceta do Juízo, não: “Não se deve julgar”
·         Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mat. 7: 1-2)
Por outro lado Jesus nos adverte que não devemos julgar, pois com o mesmo juízo que julgarmos, poderemos ser ajuizados. Usando unicamente este texto é visível que Cristo põe um STOP no juízo. É fácil verificar que Cristo nos ensina a deixar Deus exercer o Juízo, pois a Ele pertence.
Mas Cristo orienta que não haja mais juízo? Que não haja mais repreensão ao irmão que estiver pecando? Será que Cristo quer nos dizer que cada um ande conforme quer, pois Deus tomará conta de tudo no final? Não creio. Vejamos o contexto da afirmação de Jesus:
·         Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. (Mat. 7:1-5)
Cristo não repreendeu o juízo por si só, repreendeu o juízo temerário, que é o julgamento apressado, arrogante, hipócrita, baseado em impressões, na conflitualidade, em informações de segunda mão (“ouvi dizer”) e em maledicência.
“Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho”. Cristo quer nos dizer que não façamos juízo sem que primeiro façamos um reparo em nós. E Paulo em sua carta aos romanos nos esclarece melhor esta situação:
·         Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas. Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus? Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento. Deus "retribuirá a cada um conforme o seu procedimento".
(
Romanos 2:1-6)
A repreensão de conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal ou desacreditar a pessoa cujos atos criticamos. Este último motivo jamais tem escusa, pois decorre da maledicência e da maldade. O primeiro é louvável, e torna-se mesmo um dever do cristão, pois dele resulta o bem, e porque sem ele o mal jamais será reprimido da igreja.
Tanto Paulo como o Próprio Jesus não podiam proibir a reprovação do mal, pois eles mesmos nos deram o exemplo disso e o fizeram em termos enérgicos. O que ambos querem transmitir é que a autoridade da censura está na razão da autoridade moral daquele que a pronuncia. Tornar-se culpável daquilo que se condena nos outros quando abdicamos de ter autoridade moral, e mais ainda, arrogar-se arbitrariamente o direito de repressão. Ou seja, um adultero não tem autoridade moral para repreender outro adultero, e se o fizer, tornasse culpado diante de Deus.
Agora, se julgar é comparar o certo do errado, então o que dizer quando comparamos os erros de terceiras pessoas com o que deveria ter sido feito? Ou seja, imagine que eu não seja ladrão. Terei eu legitimidade quando em conversa com o “João” julgar a ladroagem do “António”?
Querida igreja é necessário que percebamos que não é o facto de termos autoridade moral que temos legitimidade de julgar tudo e da maneira como queremos. Este sim, é um dos maiores problemas no seio cristão. Devido a autoridade moral que detemos num item de nossas vidas, também nos sentimos legitimados em julgar a terceira pessoa. E isto leva os cristãos a não exercerem os seus esforços em combater o pecado de uma pessoa, mas sim combater a pessoa em pecado.
Neste último reside um dos pontos mais fracos do cristianismo. É bem mais fácil julgar terceiras pessoas em pecado, porque todo o juízo empreendido não requer a presença da pessoa em causa. Então, nos deleitamos em ajuizar todos os defeitos dessa pessoa e não só. Desacreditamos os “culpados” perante os outros. Em vez de fazermos o juízo, que é necessário na igreja de cristo, desenvolvemos a critica, a maledicência em nós, sempre procurando e destacando as falhas dos outros. E como o mal não vem só, também desenvolvemos tais caraterísticas naqueles que partilham a conversa conosco, pois os convidamos a serem críticos também.

Alguém poderia perguntar: Então se o cristão pode fazer o juízo desde que tenha autoridade moral, por que não deste jeito? Se Cristo (Mat. 12:34) e Paulo (Gal. 2:11-14) apontaram os erros dos fariseus e Cefas de forma energética na presença dos discípulos, o que nos impede de fazer o que temos feito? Muitos alegam assim: Mas o que falo é verdade. Ele mesmo é... Então pergunto: Já viram alguém a desfalecer porque deixou de ouvir uma fofoca? Então guarda o teu juízo para sempre ou repreende a pessoa em causa ou ainda confessa a Deus que é o único que pode lhe mudar.
Temos de perceber os detalhes que a bíblia nos apresenta para não cairmos naquilo que são as nossas paixões. Pois, tanto Cristo como Paulo não repreenderam pessoas que não estavam presentes (terceiras pessoas). Cristo e Paulo ao repreenderem tiveram um frente a frente com estas pessoas. Sim, esta é a verdade. Cristo e Paulo ajuizaram na presença daqueles que precisavam si auto-corrigir:

  • Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. (Mt 12. 34)
  • Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível... Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos... (Gál. 2:11-14).
Quando na roda de amigos ou de parentes; quando em meios informáticos; quando usamos uma terceira pessoa para expor os problemas de outrem, estejamos certos de que esta não é a direção de Deus, pois nos procedendo assim estamos a combater o pecador, estamos a sentenciar o pecador.
Precisamos nos acautelar com o juízo. É necessário perceber, que independentemente se teu irmão errou feio, quando o desnudamos nas rodas de amigos, ou em meios informáticos, estamos a exercer o juízo condenatório. Juizo condenatório é criticar por trás, e a isto chama-se covardia. E a palavra de Deus nos diz que estes (Covardes) não têm parte no reino dos céus (Apoc. 21:8).
A bíblia nos diz que de uma só boca procede bênção e maldição (Tiago 3:10) e não é atoa que ela nos adverte contra o mau uso da língua, devido à influência que este pequeno órgão tem sobre nós.
Vamos terminar analisando de novo a historia do filho prodigo:
Provavelmente quando se fala da história do filho prodigo muitos recriminam a atitude do filho mais velho sem mesmo saber o que recriminar, talvez porque todos recriminam.

Voltemos então para a história bíblica: O filho mais velho teve as suas razões para julgar? Sim. São as certas? Antes de responder se sim ou não temos de responder a mais duas questões. Primeiro: A riqueza da família pertencia ao irmão mais velho? Segunda: O encontro entre os irmãos é visível neste relato bíblico?
Pela história dissemos que não houve razões para que o irmão mais velho condenasse o seu irmão diante do seu pai. O juízo exercido pelo irmão mais velho foi feito erradamente, porquanto ele mostrou egoísmo por um bem que não o pertencia. A riqueza esbanjada que ele repudiava não o pertencia, era de seu pai. Por outro lado, mostrou também covardia, pois não repudiou o pecado de seu irmão frente-a-frente. Pelo contrário, ao ajuizar seu irmão perante o seu pai não fez outra coisa que não fosse repudiar o pecador, desprezar ao seu irmão, criticar o seu irmão. Pelo que, a história bíblica termina e os irmãos não se encontraram. Tudo porque o irmão mais velho revestiu-se de autoridade total e sentenciou a seu irmão (acautelemo-nos disso).
Salomão em seus provérbios coloca a disposição do cristão uma lição de muita sabedoria:
·          O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias (Prov. 21:23).
Querida igreja, se existe uma vontade tão grande de falar dos erros do irmão na roda de amigos, especialmente quando ele erra feio, então convém que nos formatemos, reformemos o nosso caráter. Ninguém por mais digno que seja tem autoridade para falar da vida de outrem. O nosso chamado é para restaurar o mal neste mundo, reprimindo o pecado na sociedade (frente-a-frente) e não o pecador (por trás). Sejamos sóbrios em todo nosso andar, porque o fim de todas as coisas está próximo (1Ped. 4:7). Deus ajuizará os juízes deste mundo e todos sem exceção somos juízes, por isso convinha que fizéssemos uma reflexão daquilo que tem sido o nosso procedimento em relação a este aspeto. Que possamos meditar nas palavras de Tiago 3:1-12.
“Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras”
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